O
Pedro:
Angelina também era da mesma opinião. O Pedro era um
grande sacana e sabia "fazer cenas à brava", arranjando sempre forma
de se escapar. "Deus tinha que escrever direito por linhas tortas".
Nunca ninguém conseguiria imaginar o quanto Angelina tinha sofrido sozinha,
quando ele metera na cabeça que havia de a levar para a cama. E as artimanhas
que ele tinha arranjado para a chantagear?! O Pedro era muito bom a inventar
coisas... Tinha a televisão no quarto, via filmes que só as pessoas grandes
podiam ver e, assim, tinha aprendido a fazer coisas que não eram muito normais para
um garoto da sua idade.
- Nunca consegui perceber a
maluqueira do Pedro. Se era da Rita que ele realmente gostava, por que raio é
que era a mim que ele queria apanhar?
Felizmente, a Rita era mais inteligente do que ele e tinha-a ajudado. Assim, o D.T. tivera que lhe levantar um processo disciplinar
e ele ainda tinha passado uns bocaditos apertados. Mas não tinha sido nada,
quando comparado com o que ele merecia.
O pai:
A avó tinha a certeza de que
fora a vaidade que levara a mãe à perdição. Ela não sabia a quem a mãe de
Angelina saía, porque nem a avó nem o avô tinham padecido de tal mal. Ela
sempre fora "uma armadinha", muito aérea e "senhora do seu
nariz"... Sempre dera muita importância à sua imagem... Sempre fora muito
de "olhar para a sua sombra". O pai de Angelina era um bom homem e um
bom marido. Segundo a mulher, que se costumava queixar, não gostava muito de
trabalho, mas também não era homem de passar o tempo nos cafés, nem de se
embebedar. Ora, só isto já era uma coisa tão boa que podia, perfeitamente,
desculpar várias outras imperfeições.
- O vinho dá cabo dos homens! -
gostava de dizer a avó - As mulheres quando têm a "sorte" de casar
com um bêbado, têm o Céu ganho!
A
professora de Ciências:
Na altura em que estavam a estudar os répteis,
Angelina tinha desabafado que não suportava cobras e até tinha, precisamente,
falado daqueles malditos bichos da aldeia da avó. Então, a professora tinha
proposto logo a elaboração de trabalhos sobre os répteis e sugerira que o grupo
dela fizesse, exatamente, sobre as cobras.
- Era "bué de fixe", a
"setora" de Ciências - murmurou Angelina relembrando a sala onde
costumava ter aulas com ela sempre no meio deles - No início não queria e até
fiquei amuada, porque podia perfeitamente ter-me dado outro tema, uma vez que
já sabia que eu detestava cobras. Mas depois explicou-me que era uma maneira de eu ficar a conhecer melhor tais
bichos e, assim, perder o medo!
A lenda
do cuco:
-
Havia uma bruxa muito má - começou Angelina,
relembrando a lenda, enquanto se baixava para apanhar outra cepa - que fazia as
suas bruxarias, maldades e magias sacrificando as aves que apanhava pela
floresta. Ora o cuco, sabendo disto, quando a bruxa saía de casa para fazer a
sua colheita de aves, começava a cantar muito alto. Desta forma, as aves foram
aprendendo que, quando o cuco cantava assim tão alto era sinal de perigo.
Queria dizer que se aproximava a bruxa malvada da floresta. Ora, claro,
descobrindo o significado do sinal do cuco e zangada por saber que ele lhe
andava a atrapalhar o serviço e a vontade, logo o apanhou e fechou-o na sua própria casa. Mas o cuco tinha tão bom coração... tanta vontade
de ajudar que não se deu por vencido.
Assim, quando a bruxa saía
para a floresta, ele punha-se à janela a cantar "cucu,
cucu", com todas as suas forças!
A ti
Luísa Poupa:
Na aldeia também havia a Ti Luísa Poupa, que pelos vistos era muito
sovina e que, na cabeça de Angelina, sempre achara que deveria ser a mulher do
Libório Cuco, porque pensava que a poupa era a fêmea do cuco. Afinal, como a
"stora" de Ciências tinha explicado, não tinham nada a ver, nem a
família era parecida. Ao menos, Angelina tinha acertado num ponto: pelos vistos
era certo que o nome deste pássaro lhe vinha da poupa que tinha na cabeça e
pelo seu canto que parecia estar sempre a mandar poupar a toda a gente!
O
Rogério:
- Vou
fazer de ti uma boneca do cinema! - dissera o Rogério no princípio, quando ela
se tinha deixado convencer de que ele era um rapaz interessante e cheio de
vontade para a ajudar - Ser personagem de novela... Isso para mim é pouco.
Temos que sonhar mais alto!
O Rogério era uma pessoa incrível, e a única coisa que tinha sido
difícil fora acreditar na sua sinceridade.
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