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A velha

Ainda tinha bem presente a mulher gorda e com idade de avó que lhe tinha aparecido e a quem inadvertidamente abrira a porta. Tinha tido um pressentimento de que eram os colegas que a vinham visitar e, então, quando esperava ver surgir o David ou a Rita, apareceu-lhe à frente aquela velha com ar de Nossa Senhora.
“Quer-me parecer que tenho um futuro muito bonito para te mostrar... uma vida interessante para te dar... Vejo um príncipe no teu caminho! Tu ainda não namoras, pois não?”
“Não”, dissera Angelina muito admirada, “mas como é que sabe?”
“Sabes, o que as pessoas sentem e o que o futuro lhes guarda vê-se por fora.”



 O homem-mistério

Estancou, junto à cama, de lado para o espelho, sentindo a imagem do homem-mistério a intrometer-se-lhe nas ideias. Aquele sorriso grande e amigo!... Já nem se lembrava de alguém lhe ter sorrido assim!
"Já acabaste as aulas?", perguntara ele junto ao portão de saída "És muito gira! Gostas de estudar? Queres que te leve a casa?"
Ficara perturbadíssima e pasmada a olhar para ele. Não tinha percebido como ele tinha aparecido ali e, no meio de tantos garotos e meninas, tinha sido ela a escolhida, tinha sido para ela que ele falara, como se a conhecesse já há muito tempo.



O retinir da porta

- Quem é? - perguntou inquieta, já junto ao puxador.
O retinir da campainha da porta era algo que ela ainda não dominava.
Nunca se abre a porta sem se ter mesmo a certeza de que, quem lá está, não nos quer fazer mal!”, continuava a dizer-lhe frequentemente a mãe, “Mesmo quando te parecer tratar-se de gente conhecida ou amiga, deves certificar-te muito bem.”  
Tais recomendações, que ouvira em tom de um infindável sermão durante dias a fio, obrigavam a que, primeiro, perguntasse "quem é?"; depois, se não conhecia a voz, tinha que dizer "O que deseja?", e se era alguém para o pai ou para a mãe, lá tinha que acrescentar "não está!".
“Se for um nome ou uma voz conhecida”, ordenara repetidamente a mãe, “antes de fazeres ou dizeres seja o que for, vais buscar um banco ou uma cadeira e espreitas pelo "olho da porta".”
Só aí é que deveria dizer: "o meu pai ou a minha mãe não está. Venha por volta das sete e trinta" e não tinha nada que abrir a porta! 









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